terça-feira, 31 de agosto de 2010

Há quem diga que uma imagem vale mais do que mil palavras, ou que uma fotografia é a captação dogmática da realidade...Discordo!
Dizem também que a imagem permanece para a eternidade, mas o que é a imagem se não há entendimento dela, se não existe observação, se não há Homem com vida?
E é sentado, contemplando o rio defronte que mergulho nestas deambulações mentais. É nesta Lisboa que me alieno da realidade, ao menos tento, e procuro observar, de forma imparcial, a molécula da vida.
Este rio prende-me ao mesmo tempo que oiço vozes, tilintares de colheres, pratos no balcão, hu hu o batido está pronto, a campainha toca: - Heii, sai um batido para a mesa 3.
O rio é enorme, soberbo ele, mas nem por isso é mais frenético que estes 30 metros que me rodeiam. E que bom que o são assim, estes 30 espaços medidos em formas geométricas.
Nesta ebolição de vida acalmo-me, nesta Lisboa que tem de ser vivida e descrita por palavras, respiro!
Pois não vivo numa imagem em pausa, vivo na vida da imagem, vivo na realidade daquilo que capturo com as minhas duas esferas sensasoriais e de nenhuma outra forma arrisco-me a viver.
Amo Lisboa, é certo; amo-a por tão bem ficar no quadro da minha sala, mas ainda mais por eu fazer parte dela.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Caixinha das surpresas!



Está cheia, a caixa das surpresas.
Caixa que quer dar, oferecer, agradar.
Surpreender, alegrar, caixa média a caixa das surpresas.
A caixa que não se quer conter; quer esbanjar, ejacular, soltar, livrar.
Caixa vazia, a caixa das surpresas.

A caixa quer soltar, a caixa quer esvaziar.

A caixa é altruísta, a caixa gosta de dar, a caixa não gosta de guardar.
A caixa transporta o que é seu para o exterior,
A caixa transfere-se e não sobra em si.
Pobre caixa, a caixa vazia.

A caixa não tem defesas e julga-se feliz.
A caixa tem buracos, é assaltada e nada diz.
Pobre caixa que se julga feliz!

E em vez de se emendar ela,
pobre caixa,
nada faz.
Continua a se esvaziar, a pobre caixa
que não para jamais.

E eu sinto-me vazio, pobre eu, pobre caixa, que já nada tenho, e para mais... bom já não há o que há esvaziar.
Dei o que tinha a dar e vazio sem nada a preencher, porque não voltar a encher?
Não a caixa, caixa minha que não tem fundo, mas a caixa do caixão e pensar que afinal não morri em vão!

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Revolução


«Os tempos daquela superstição que atribuía as revoluções à descrença de uns tantos agitadores já passaram. Cada qual sabe agora onde quer que haja uma covulsão revolucionária, que existe no fundo de tudo isso qualquer necessidade social que as instituições viciadas impedemque seja satisfeita. A necessidade não pode ser muitas vezes expressa com precisa violência para se lhes outorgar um êxito imediato, mas qualquer tentativa de repressão pela força a tornará cada vez mais poderosa, até conseguir fazê-la romper todos os seus entraves. Se formos então derrotados, não temos mais nada a fazer do que recomeçar novamente tudo de princípio.

E, felizmente, o breve intervalo que nos concedem entre o final do primeiro e o princípio do segundo acto do movimento, dá-nos tempo para realizar uma parte interessante da obra: o estudo das causas que produziram a prévia comoção e a sua derrota, as causas que não deverão ser procuradas nos acidentais esforços, talentos, faltas, erros ou traições de alguns chefes, mas antes no estado social geral e nas condições de existência de cada uma das nações agitadas.»


Karl Marx, «Revolução e Contra-revolução»